sábado, 30 de março de 2013

Inventário do Ir-remediável - Caio Fernando Abreu

Postado por Alana Grace às 12:04 0 comentários
Olá! Estou lendo o livro Inventário do Ir-remediável, do Caio Fernando Abreu. Se me perguntarem o que estou achando, responderei ''alguns contos são maravilhosos, outros nem tanto''. Mas apesar disso, eu recomendo esse livro, simplesmente por ser do Caio. Eu amo de paixão as frases dele, e espero poder ler ''Morangos Mofados'', seu livro mais famoso. Enfim, encontrei em outro blog vários trechos dos contos, e  separei para postar aqui enquanto vocês não leem o livro todo:


Os Cavalos Brancos de Napoleão

“Reação espontânea de quem vê o belo: mostrar.”
“Porque ver é permitido, mas sentir já é perigoso.”
“Paciente, passivo, aceitava tudo sem sequer tentar compreender.”
“Melancólico, chorava noites inteiras, buscando explicações para a atitude cada vez mais inexplicável de seus antigos companheiros.”


A Quem Interessar Possa


“A culpa é de todos e não é de ninguém, não sei quem foi que fez o mundo assim horrível.”
“Eu ia como sempre sair caminhando sem saber aonde ir, sem saber onde parar, onde pôr as mãos, os olhos e ia me dar aquela coisa escura no coração e eu ia chorar chorar durante muito tempo sem ninguém ver.”


Corujas (Introdução)


“O fato é que tínhamos medo, ou quem sabe alguma espécie de respeito grande, de quem se vê menor frente a outros seres mais fortes e inexplicáveis.”


Corujas (A Chegada)


“Essa ternura bruta que destrói por excesso inábil de amor.”


Apeiron


“Atingira a bondade absoluta. Meu Deus, isso é horrível, é horrível, quis gritar. Já não podia. O padre fechava rapidamente a tampa do caixão. Em breve viriam os vermes.”


O Ovo


“Minha vida não daria um romance. Ela é muito pequena. Mas é meio sem sentido ficar pensando em jeitos de escrever se ninguém nunca vai ler.”
“Tudo muito chato, muito igual.”


O Mar Mais Longe Que Eu Vejo


“Eu chorava, no começo eu chorava e não entendia, apenas não entendia, e não entender dói, e a dor fazia com que eu chorasse.”
“A minha mão direita era a minha mão e a minha mão esquerda era a mão do príncipe, e a minha mão direita e a minha mão esquerda juntas eram as nossas mãos.”
“De vez em quando eu pensava eu vou sentir essa coisa que se chama ódio. E sentia. Crescia uma coisa vermelha dentro de mim, os meus dentes rasgavam coisas.”
“Aí sinto essa coisa que ainda não esqueci o jeito e que se chama desespero.”
“Eu doía neles como se fosse ácido.”
“Eu dava um cavalo branco para ele, uma espada, dava um castelo e bruxas para ele matar, dava todas essas coisas e mais as que ele pedisse, fazia com a areia, com o sal, com as folhas dos coqueiros, com as cascas dos cocos, até com a minha carne eu construía um cavalo branco para aquele príncipe. Mas ele não queria, acho que ele não queria, e eu não tive tempo de dizer que quando a gente precisa que alguém fique a gente constrói qualquer coisa, até um castelo.”


Fotografia


“Presa num círculo que cresce até explodir na vontade contida de gritar bem alto, bem fundo, rouca, exausta, correndo, esmagando as folhas de um outro outono, de um outro tempo, ainda este, o tempo, o outono, a tarde, o mundo, a esfera, a espera em que estou para sempre presa.”
Itinerário
“Novamente quase grito porque a realidade de repente oscila, ameaçando quebrar-se em fatias que ferem.”
“Revolta sufocada são rumores que abafo lentamente, com a delicadeza monstruosa de quem estrangula uma criança dormindo.”


O Coração de Alzira


“O espelho refletia um rosto amassado de pessoa em estado de desordem interna e externa.”


Domingo


“Obrigação de sentir, se possível, chorar.”
“Não iriam entender que vezenquando a gente fica triste sem motivo, ou pior ainda, sem saber sequer se está mesmo triste.”
“Mania de esperar que as coisas sejam um jeito determinado, por isso a gente se decepciona e sofre.”
“Mas é preciso passar por uma porção de besteiras até chegar ao que interessa.”
“Pudesse abrir a cabeça, tirar tudo pra fora, arrumar direitinho como quem arruma uma gaveta. Tomar um banho de chuveiro por dentro.”


Diálogo


“Meus olhos quase verdes de tanto amor recusado.”
“Para sempre me perderei entre as pessoas, vagando sem encontrar, sem saber sequer o que busco, o que buscarei.”
“É esse gelo por dentro que eu não consigo entender. Você se doou tanto quando eu não pedia, e no momento em que pela primeira vez pedi, você negou, você fugiu. É esse seu bloqueio de aço encouraçando o silêncio, eu não consigo entender.”
“Você só consegue dar quando não é solicitado, e quando pedem algo você foge em desespero.”
“Medo de que se alcance seu centro e nesse centro exista alguma coisa que você não quer mostrar nem dar ou dividir.”


Triângulo Amoroso: Variação Sobre o Tema


“Algo meio vago, quase informe, acentuado vezenquando por lacinhos e babadinhos, como se as frescuras no vestir pudesse compensar o que lhe faltava: a forma.”
“Ela era, pois, o ser mais só daquela casa.”
“Subjetiva e objetivamente, a menina era tremendamente solitária.”


Meio Silêncio


“Mas era nos olhos, só nos olhos, que se fixava aquele mudo apelo, aquele grito.”
“O corpo ferido por um sentimento indefinível. Precisa falar, precisa dizer.”


Amor


“Ah se pudesse ver a si mesmo assim, carregado, insuportável de amor, de tanto amor, de puro amor.”


Amor e Desamor


“Ultrapassara o susto mas, temerosa de sofrer por amor, caíra na paixão. Absurda e mexicana e encerrada em si e independente do que a despertara: Paixão.”


O Rato


“Sozinho naquele bar, naquela rua, em todos os bares em todas as ruas do mundo, no mundo inteiro.”
“O meu dia só existe porque você existe dentro dele.”
“Hoje existir me dói feito uma bofetada.”
“Não olhava para trás, porque olhar para trás era uma maneira de ficar num pedaço qualquer para partir incompleto, ficado em meio para trás.”
“Jamais olhava para trás, jamais: o que estava feito, estava feito, estava consumado, estava para sempre imutável, inamoldável, fechado em si mesmo, estanque: o tempo.”
“Se ao menos dessa revolta, dessa angústia, saísse alguma coisa que prestasse.”
“Só eu sei que cheguei á humildade máxima que um ser humano pode atingir: confessar a outro ser humano que precisa dele para existir.”


Madrugada


“O outro pensava que nunca tinha encontrado alguém que o compreendesse tão completamente.”
“Talvez estivessem realmente destinados um ao outro, e mesmo sem o álcool, numa rua repleta saberiam encontrar-se.”
“De elo em elo, ligavam-se cada vez mais. A tal ponto que simplesmente não cabiam mais em si mesmo.”


A Chave e a Porta


“Por que não se render ao avanço natural das coisas, sem procurar definições?”
“Eu te vejo mais fundo do que você me vê, porque eu te invento nesse olhar, porque você se torna o meu invento, porque depois de olhar muito dentro eu prescindo da imagem e o meu olhar repleto se basta, como se eu fosse cego, mas tivesse guardado todas as imagens: um cego vê mais que um homem comum porque não precisa olhar para fora de si, porque o que ele deseja ver está completamente dentro e é inteiramente seu.”
“Você não me vê, eu não te vejo, mas tenho o coração pálido, as mãos suspensas no meio de um gesto, a voz contida no meio de uma palavra, e você não vê o meu silêncio nem meu movimento dentro dele.”
“Sua mão esfaqueia a parede, as palavras caem como frutos podres, como flores colhidas, como crianças mortas. Nas mãos, a chave achada muito tarde, muito tarde. Tarde demais.”


Metais Alcalinos


“Era o mais vago dos três. E por ser o mais vago, justamente o mais perigoso, pois a sua precisão poderia explodir súbita, não anunciada por sinais externos: a sua neblina não permitia uma exploração cuidadosa, e ele podia vir a ser finalmente o que todos temiam.”


Inventário do Ir-remediável


“Você sabe que vai ser sempre assim. Que essa queda não é a última. Que muitas vezes você vai cair e hesitar no levantar-se, até uma próxima queda.”
“Você sabe que eu fiquei. E que ficaria até o fim, até o fundo. Que aceitei a queda, que aceitei a morte. Que nessa aceitação, caí. Que nessa queda, morri. Tenho me carregado tão perdido e pesado pelos dias afora. E ninguém vê que estou morto.”



 

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